GENEALOGIA DO MEDO
RICARDO CARRANZA
Genealogia do medo foi publicado em 1981 no II Concurso Mackenzie de Poesia. Participaram 668 poetas dos quais 70 passaram pela peneira. A organização ficou a cargo do Grupo Poeco Só-Poesia. Cerca de vinte e cinco anos depois participei de uma Antologia da Asabeaça quando fiquei sabendo que o Grupo Poeco foi o embrião da Scortecci.
No dia da divulgação eu cheguei atrasado e a leitura do poema vitorioso, um longo hino à Drummond, já havia começado. Os poemas foram expostos num salão e lembro que não senti nada de especial por estar entre os setenta. Hoje eu penso que o leitor é o objetivo de toda a escrita, mas eu tenho a sensação de que fazer a coisa exige tanto de nós que a meta pode ser apenas um suspiro de alívio, como uma carga excessiva que tiramos dos ombros. No dia não foi bem isso. O poema selecionado não me deu muito trabalho. Naquele tempo escrever era mais uma terapia, uma forma de sobrevivência. Confesso que ainda acho intrigante a minha reação.
O poema foi publicado com o título - O medo, e só em 2017 foi revisitado, resultando a alteração de um verso e o novo título. São assim os escritores: quando não estão escrevendo estão revisando, e quando não estão nem escrevendo nem revisando estão pensando no que vão escrever ou no que é preciso revisar; quando, enfim, não estão ocupados com nenhuma das atividades mencionadas, curvam-se sobre si mesmos, como o pensador de Rodin que, segundo Gabriela Mistral, com quem concordamos, pensa na morte.
Genealogia do medo é um exemplo do tom de uma poesia frequentemente solene, e do tema, constante entre os mais universais e comuns, tais como, além do medo, a solidão existencial, a morte e o amor, esta palavra valise que contém no seu ventre o conhecimento, a solidariedade, a liberdade e a luta.
A estrutura do poema, que descreve um ciclo, reflete a natureza do tema, isto é, o medo como um mosquitinho rondando a nossa cabeça. Trata-se de uma característica universal do ser humano, portanto inescapável. Diante do fato, cabe a nós poetas não mais que lançar luzes sobre tais temas, se somos adeptos da crença de que só o conhecimento salva.
Sobre o enfoque da imagem – o poeta de olhos fechados, sabemos que o medo é instinto e subjetividade, então a representação interiorizada que é também a citação física da máscara ou máscaras de Ezra Pound. Os dois planos, olhar interior e máscara exterior, anteciparam o nosso trabalho na gravação do vídeo. Assim, pensamos que a máscara do poeta pretende ser uma citação à máscara de Pound que pensava em si mesmo como o homem da Máscara de Ferro: é o real que se bifurca.
O vídeo foi ao ar no canal CURTA em 28 de abril de 2018 e está disponível no Canal Youtube da 5% arquitetura + arte
COMO CITAR:
CARRANZA, Ricardo. Genealogia do Medo. Revista 5% arquitetura+arte, ano 13, volume 2, número 15, pp. 86.1 - 86.3,jan. jul. 2018. disponível em: http://revista5.arquitetonica.com/index.php/poesia/genealogia-do-medo
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