O Renascimento da Escola Municipal de Astrofísica
O projeto de arquitetura começa por uma pergunta: que partido adotar, isto é, dadas as condicionantes – programa, sítio, recursos, quais seriam as respostas mais adequadas à solução do problema?
Na Escola Municipal de Astrofísica, Roberto José Goulart Tibau, arquiteto e professor da FAUUSP, delimitou um território mediante vigas perpendiculares a dois pilares parede associados à uma planta livre com quatro apoios, enfatizando transparência e prolongamento visual determinados tanto pelos vãos estruturais sem laje quanto pela caixilharia das áreas cobertas. Balanços de laje no eixo transversal atenderam ao sombreamento das vedações em vidro. Considerado por Ruth Verde Zein um exemplar da Arquitetura Brutalista Paulista, o projeto foi bem sucedido, em nossa opinião, porque harmoniza a força dos grandes elementos estruturais à leveza que os mesmos delimitam.
A ideia de uma Escola de Astrofísica foi do professor Aristóteles Orsini, membro da Associação de Amadores de Astronomia de São Paulo, em 1949. Inaugurado em 1961, o Astrofísica no tempo exigiu cuidados. O primeiro passo foi o tombamento pelo CONDEPHAAT e CONPRESP em 1992. Em 2004, através da SVMA, a Inpar contratou o arquiteto Edson Elito para ampliar o programa, adequá-lo às normas de funcionamento vigentes e infraestrutura necessária ao novo projeto educacional, pedagógico e científico.
O desafio, comum às obras de caráter histórico, é atender a um novo programa com interferência criteriosa. Parte da ampliação foi resolvida em subsolo, com um ressalto discreto do detalhe de ventilação e iluminação permanentes sob banco de concreto na superfície. Quatro novos telescópios, instalados em estrutura de concreto com domo rotativo de fiberglass, foram implantados defronte ao edifício existente. Um deck de madeira, suspenso por perfis de aço, respondeu pela interligação do conjunto e conta com rampas acessíveis nas extremidades.
Questões relativas à acessibilidade universal demandaram intenso debate entre arquitetos e órgãos do patrimônio e defesa de pessoas portadoras de necessidades especiais. A instalação de um elevador com portas opostas, e vedação em vidro, atendeu aos cinco desníveis da escola, bem como sua inscrição discreta no corpo da obra.
Em um projeto como o Astrofísica, parte significativa das intervenções não são evidentes, mas evidenciam a ética do arquiteto. Assim, o terreno gramado junto à caixilharia foi recomposto; os muros de pedra da Biblioteca voltaram a ter seteiras; as placas de sombreamento da cobertura foram substituídas por enchimento de concreto leve com proteção térmica e impermeabilização; novas esquadrias com de vidros de segurança e venezianas no salão de exposições foram especificadas respeitando-se a modulação original; instalações de hidráulica, elétrica, lógica, e incêndio foram substituídas e redimensionadas.
Exemplo de maestria técnica associada à sensibilidade artística, o projeto recebeu o Prêmio Destaque – O Melhor da Arquitetura, Revista Arquitetura e Construção, 2010.
FICHA TÉCNICA:
Escola Municipal de Astrofísica Professor Aristóteles Orsini
Local – Parque Ibirapuera – São Paulo/SP
Projeto Original – Arquiteto Roberto José Goulart Tibau 1960/1961
área – 1.884,23m²
CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo.
CONPRESP – Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo
Projeto de restauro, ampliação e adequação 2004/2008
área de ampliação 242,87m²
área total de intervenção 2.127,10m²
Projeto de arquitetura Elito Arquitetos Associados Ltda.
Edson Elito, Joana Fernandes Elito e Cristiane Otsuka Takiy
Secretaria do Verde e do Meio Ambiente do Município de São Paulo – SVMA
Equipe técnica de arquitetos: Marcos Cartum, André Pavão, Estagiária de arquitetura, Carla Guimarães
Fiscalização Depave: Eng. Sergio Ferline
Projeto de estrutura: Kurkdjian e Fruchtengarten engenheiros associados
Projeto de instalações elétricas e hidráulicas: Sandretec consultoria ltda
Projeto de instalações de ar-condicionado: WS ar-condicionado ltda
Construção: Construtora Inpar
Sommar engenharia: Apoio instituconal
Fundação Vitae, Fotos da obra: Stepan Norair Chahinian
REFERÊNCIAS:
CARRANZA, Ricardo. Eduardo Corona na arquitetura moderna paulista. 1. ed. São Paulo: FUPAM, 2002.
CARRANZA, Ricardo; CARRANZA, Edite Galote. Documento Roberto José Goulart Tibau. AU, São Paulo, v. 103, p. 89-95, 2002.
ORSINI, Maria Stella; BERGAMASCHI, Patrizia. Memorial das estrelas: memorial de Aristóteles Orsini Fundador do Planetário de São Paulo. São Paulo: Companhia ilimitada, 2001.
ZEIN, Ruth Verde. Escola Municipal de Astrofísica. Disponível em: http://www.arquiteturabrutalista.com.br/fichas-tecnicas/DW%201957-25/1957-25fichatecnica.htm
AUTORES:
No Content Acessos: 3588