Casa Eduardo Manzano: alternativa à casa popular

EDITE GALOTE CARRANZA
RICARDO CARRANZA
O arquiteto Vitor Lotufo, como um mestre das corporações de ofício medievais, elabora o processo construtivo no canteiro orientando a mão de obra com base em desenhos técnicos resumidos, o que não deve ser confundido com o prático que desconhece a teoria. O arquiteto tem longa experiência no ensino de arquitetura, em aulas teóricas, prática em laboratório, e na sistematização das experiências em monografias de cálculo estrutural, por exemplo, para o qual contribui com um método geométrico de dimensionamento das estruturas.
Teto em pirâmide torcida. Fonte: Arquivo do arquiteto
Assim, fundamentou conceito e repertório técnico correspondente baseado na síntese entre vernacular e erudito: cúpulas nervuradas de concreto armado, icosaedros de argamassa armada, arcos, tesouras e pirâmides de alvenaria estrutural, pilares torcidos, cascas parabólicas – de ferro tijolo vazado, madeira e lajes pré-fabricadas, cúpulas geodésicas – de madeira e telhas de barro, alvenaria estrutural de taipa de pilão e adobe de terra de cupinzeiro. Em cada uma das soluções Vitor Lotufo fez projeto, cálculo estrutural e atuou tomando decisões durante o andamento das obras numa relação horizontal com pedreiros e mestres, como tributário das ideias de Sérgio Ferro. Lotufo também bebeu na fonte de Antoni Gaudí, Eladio Dieste, Buckminster Füller e Zenon Lotufo seu pai. É o arquiteto contracultural por excelência.
Casa Eduardo Manzano, em obras. Fonte: Arquivo do arquiteto
Neste projeto Lotufo explora ao máximo as possibilidades de um único elemento: o tijolo de barro à vista. Situada na área rural da cidade de Botucatu, o programa de dois quartos, jantar, estar, lavanderia e banheiro perfaz uma área de 57m2 distribuído em um octógono compacto. O espaço destinado ao jantar foi estrategicamente colocado no centro da planta. Economia de meios é um dos eixos sobre os quais se organiza a arquitetura de Vitor Lotufo.
Planta da cobertura. Desenho: Edite Galote Carranza
A cobertura foi resolvida com pirâmides retas de tijolos apoiadas na alvenaria, e uma pirâmide central em espiral sustentada por três arcos plenos. Essas pequenas torres de cobertura funcionam também como iluminação zenital. Por se tratar de uma residência mínima a solução contribui com a percepção ampliada dos espaços internos. Portas e janelas de madeira foram obtidas dos fornecedores mais usuais do mercado da construção civil.
Casa Eduardo Manzano, recém concluída. Fonte: Arquivo do arquiteto
A sustentabilidade sempre foi um item prioritário nas obras de Lotufo. As placas de aquecimento solar foram apoiadas nos planos inclinados das pirâmides. A caixa d’ água é um icosaedro de argamassa armada aparente, a técnica favorece a impermeabilidade. A captação das águas de chuva foi o resultado natural da volumetria da cobertura. A tubulação conduz as águas das calhas aos vértices da varanda armazenando-a em uma cisterna subterrânea. O esgoto da casa passa por fossa séptica e depois é tratado pelo sistema de reuso de águas negras que consiste em uma caixa filtrante e bananeiras – vegetação apropriada à purificação dessas águas. Conhecimentos sobre permacultura que Vitor compartilha o filho Tomaz Amaral Lotufo, também arquiteto e professor.
A residência Eduardo Manzano, associando Ecologismo a técnicas construtivas tradicionais, é mais uma obra bem sucedida da arquitetura alternativa paulista.
AUTORES:
No Content
FICHA TÉCNICA:
Casa Eduardo Manzano, 2007.
Localização: Botucatu, São Paulo
Projeto: Arquiteto Vitor Lotufo
Responsável pela obra: Arquiteto Tomaz Amaral Lotufo
Proprietário: Eduardo Manzano
Acessos: 3489