Escalas de Representação em Arquitetura: Prefácio à 2a edição por Alberto Xavier

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Prefácio à 2a edição por Alberto Xavier

O desenho – esse nosso tradutor de emoções, sonhos e ideias – pode assumir

distintas formas de manifestação. Tanto Lucio Costa, em programa elaborado no

início dos anos 40 para o Ministério da Educação sobre o tema, quanto Francis Ching

em seu livro Dibujo y Proyecto, editado em 1999, reconhecem três modalidades de

desenho: o de observação, o de criação e o técnico. Todas interessam ao arquiteto,

uma vez que constituem instrumentos vitais de trabalho.

O desenho de observação é uma ferramenta de apropriação de determinada

realidade, registro daquilo que desperta nossa atenção – um edifício, uma rua, uma

paisagem. São incontáveis os desenhos de observação produzidos por arquitetos

nos mais variados períodos da história. Como Le Corbusier, que lançou seu olhar

sobre o Oriente, visitado em 1911 e quando de sua passagem pelo Brasil, em 1929.

O desenho de criação está “a serviço da imaginação, quando inventa”, ou seja,

“concebe e deseja construir”; é o veículo através do qual a essência de nossas

ideias se configura. Trata-se dos familiares croquis. Variam quanto à expressividade,

economia de linhas, personalidade. Os esboços inconfundíveis de Oscar Niemeyer e

os traços sumários com que Lucio Costa definiu Brasília são exemplos significativos.

No entanto, por ser sintético e de dimensões imprecisas, o desenho de

criação, no território da arquitetura, carece das informações indispensáveis à

correta execução de determinada ideia, futura edificação. É quando, em seu auxílio,

comparece o desenho técnico, ou seja, ferramenta de “como fazer”, que obedece a

determinadas normas, capazes de viabilizar a materialização daquilo que ainda se

encontra em estágio preliminar de concepção.

Ao contrário do desenho de observação e do desenho de criação

– impregnados de individualidade – o desenho técnico é um instrumento

fundamentado numa linguagem de caráter universal, própria de outros registros,

tais como a química, a matemática, a geometria, a música. Por isso, capaz de ser

entendido em qualquer quadrante, por mais diversos que sejam as línguas e culturas.

O presente livro aborda as normas que regem o desenho técnico de

arquitetura. Fornece, de início, informações sobre os materiais e instrumentos

básicos de trabalho – restritos, é claro, ao desenho de prancheta, reservando para a

disciplina de Informática o ensino do desenho hoje corrente com o computador. Na

sequência, enfoca as normas de representação gráfica, porquanto indispensáveis à

correta informação das características do objeto concebido. O corpo principal da

publicação é dedicado ao esclarecimento dos princípios da disciplina, apoiada tanto

no sistema de projeção ortogonal quanto no perspectivo.

O livro familiariza, assim, o estudante com os recursos convencionais de

representação dos objetos – pensados tridimensionalmente – por meio de um

conjunto de representações bidimensionais que, no entanto, se inter-relacionam. Ou

seja, inclui plantas, cortes e elevações dos distintos componentes de uma edificação,

em escalas as mais diversas, conforme o grau de esclarecimento pretendido. O

desenho perspectivo – ferramenta das mais importantes de que se vale o arquiteto

e que alcança hoje elevado grau de sofisticação com variados programas de

computação – tem esclarecidos, passo a passo, seus princípios de montagem.

Por sua natureza mais complexa, recebem especial atenção alguns

componentes da edificação, como escadas, rampas e telhados, bem como alguns

detalhes frequentes na etapa de projeto executivo, todos ilustrados através de

exemplos e exercícios, assegurando ao leitor a compreensão necessária. Conclui

o trabalho um oportuno capítulo de verbetes, de modo a introduzir o aluno no

universo dos vocábulos arquitetônicos, que conta, como muitos outros campos do

conhecimento humano, com terminologias específicas que é necessário desde cedo

dominar.

A experiência pedagógica de mais de uma década do casal de arquitetos

Edite e Ricardo Carranza os credencia para proporcionar-nos uma publicação

que se distingue dos manuais correntes, limitados às regras básicas do desenho

técnico. Vai além, ao se respaldar, segundo os próprios autores “nas diferentes

especificidades necessárias ao desenvolvimento de um projeto, dos esboços

iniciais ao projeto executivo”. E, ressalte-se, ganha eficácia como instrumento de

aprendizado do aluno, com os exemplos e exercícios práticos propostos. Estão,

portanto, de parabéns não só os autores, por este livro belo, minucioso e oportuno,

que enriquece a rara bibliografia sobre o assunto, mas especialmente os alunos de

nossos inúmeros cursos de arquitetura que terão no “Escalas de Representação em

Arquitetura” uma “mão segura” para o registro correto de suas concepções, tímidas

quando de seus primeiros passos, mas capazes, com o correr do tempo, de ganhar

expressão original neste discurso permanente e rico – o da criação arquitetônica.

Julho 2007

Alberto Xavier[1]

 

[1] ALBERTO XAVIER Nascido em 1936, formou-se em 1961 na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Lecionou nos cursos de arquitetura das universidades de Brasília (UnB), São Paulo, Mackenzie, e Católica de Santos e, atualmente,do Centro Universitário Belas-Artes e na Universidade São Judas Tadeu. Como arquiteto, trabalhou no Centro de Planejamento Urbanístico da UnB, no escritório de Rino Levi e no Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP. Foi responsável pela pesquisa e edição do livro Lucio Costa: sobre arquitetura (1962), reeditado fac-símile em 2007, além de coletânea sobre a arquitetura moderna das cidades de São Paulo,Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre e Depoimento de uma Geração (1987), reedição revista e ampliada (2003) de obra eleita por especialistas como um dos dez livros mais importantes da década de 1980.

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