EDUARDO LONGO: arquitetura e contracultura

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INTRODUÇÃO

Este ano, Eduardo Longo completou sessenta e três anos de vida e trinta e nove de arquitetura. Formou-se pela Faculdade de Arquitetura Mackenzie, em 1966, e pertence à geração de arquitetos que se lançaram na busca de novos caminhos como forma de superar o impasse gerado pelo esvaziamento do movimento moderno.

Ainda estudante, Longo definiu uma linha de trabalho que permeou toda sua carreira: maior liberdade de expressão plástica, atitude inusitada diante de programas simples e soluções desvinculadas de qualquer grupo ou corrente. Uma tomada de posição diante de um contexto conturbado em várias frentes: revolução cubana, geração hippie, maio de 68 francês, conquista da Lua e no Brasil golpe militar de 64, entre outros eventos contundentes.

INICIO DE CARREIRA

Em 1964, Longo projetou a Casa do Mar Casado. Primeiro projeto significativo, tornou-se um marco em sua carreira.Trata-se de uma casa de praia localizada no município do Guarujá. Na época,  Longo cursava o terceiro  ano de arquitetura e resolveu levar o projeto para ser desenvolvido na escola, onde contou com a assessoria do professor Franz Heep, arquiteto de origem tcheca, e que contribuiu em São Paulo com projetos significativos, como por exemplo, o Edifício Itália.

 

Figura 1 - Casa do Mar Casado, maquete de gesso. Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 1 - Casa do Mar Casado, maquete de gesso. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 2 - Casa do Mar Casado, perspectiva da sala de estar.  Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 2 - Casa do Mar Casado, perspectiva da sala de estar. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Foi um projeto que não passou desapercebido, e diversas publicações a seu respeito se sucederam. Foi distinguido com a crítica de Pietro Maria Bardi, que afirmou “o desprendimento e brilho arquitetural, traço entre escultura e arquitetura, ajardinamento e paisagem, tudo contribui para a felicidade da idéia e a audácia do empreendimento. A casa é uma das realidades certas da arquitetura brasileira moça;”[1] bem como a de Yves Bruand, que afirmaria “...A plasticidade do concreto, único material capaz de se prestar a formas tão flexíveis e complexas quanto as imaginadas pelo arquiteto, foi explorado sob todos os ângulos com um virtuosismo comparável ao de Niemeyer... “[2]

 

Figura 3 - Casa do Mar Casado, vista aérea.  Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 3 - Casa do Mar Casado, vista aérea. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 4 Casa do Mar Casado, sala de estar.  Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 4 Casa do Mar Casado, sala de estar. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Mas é interessante considerar que esta casa, além da plástica singular, prioriza questões relativas ao uso, também de forma independente. Ao invés de buscar a transparência, privilegiando a presença da paisagem a partir dos ambientes, o que muitas vezes é esperado em uma casa de praia, optou por um partido intimista, com aberturas estudadas cuidadosamente para controlar a luz. Longo considerou que depois da exposição ao sol as pessoas desejam refúgio e repouso à sombra.[3] Assim, projetou domus circulares no teto, para a dissipação do ar quente. Combinou essa solução com pintura externa, na cor branca, a qual favorece a reflexão do calor. A desconcertante originalidade de concepção dos espaços internos, mediante a recusa de qualquer regularidade e simetria, a ausência do ângulo reto, paredes não paralelas, e a cobertura em concreto armado  inclinada e facetada, são algumas de suas características. [4]

Figura 5 Casa do Mar Casado, desenho em cad.  Fonte: Edite GR CarranzaFigura 5 Casa do Mar Casado, desenho em cad. Fonte: Edite GR Carranza

 

 A casa gerou polêmica. Críticas desfavoráveis ocorreram principalmente porque seu projeto, que seguia uma linha organicista, entrava em choque com a corrente arquitetônica da denominada “Escola Paulista”, que defendia princípios racionalistas, expressão plástica a partir da estrutura, volumes prismáticos, pilares diferenciados, enfim, projetos que, não obstante suas indiscutíveis qualidades, tentavam ainda colocar em uma perspectiva adequada as festejadas conquistas de Vilanova Artigas.

Longo, porém, se sensibilizou com as críticas, especialmente quanto à “falta de verdade estrutural”, e sua resposta veio com a Casa Margarida, de 1965, cuja concepção é racionalista. Adotou estrutura em concreto armado, e buscou evidenciá-la. Mas, ao invés de trabalhar com volumes concebidos a priori, o partido surgiu do desejo de re-utilizar as formas da caixa d´água de uma casa vizinha, cujo projeto era de Sérgio Bernardes. As formas originaram o volume cilíndrico da caixa de escada e caixa d´água, que também suporta o telhado de madeira, mesas e bancos.  No térreo, o “mobiliário” se integra à arquitetura, numa solução despojada e coerente com o ambiente informal de uma casa de praia. O detalhe bem humorado do cata-vento, em forma de margarida, batizou a casa.

 

Figura 6 Casa Margarida, fachada posterior.  Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 6 Casa Margarida, fachada posterior. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 7 Casa Margarida, sala de estar e jantar. Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 7 Casa Margarida, sala de estar e jantar. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 8 Figura 9 - Casa do Margarida, desenho em cad.  Fonte: Edite GR CarranzaFigura 8 Figura 9 - Casa do Margarida, desenho em cad. Fonte: Edite GR Carranza

 

Depois de sua passagem pelo racionalismo, Longo retorna às origens projetando uma seqüência de casas que seguem a linha arquitetônica organicista da primeira.

         A Casa C. Lunardelli, de 1968, também no Guarujá, pertence a essa seqüência. Como ela não está localizada na praia, Longo buscou uma implantação que favorecesse a vista para o mar. Sua volumetria é marcada pela justaposição de três pirâmides, e uma torre cilíndrica para caixa d´água em concreto aparente. Uma laje plana integra os quatro volumes e compõe o acesso e hall de distribuição. A cada uma das pirâmides foi atribuída função específica: dormitórios que se abrem para um jardim interno com iluminação e ventilação resolvidas mediante laje pergolada; os serviços, com a mesma solução de cobertura já descrita; salas de jantar e estar com grandes aberturas integradas à área externa, e sobre a sala, em mezanino,  foi planejada a suíte principal, com amplo terraço.

 

Figura 10 - Casa C.Lunardelli, Guraujá – SP  Foto: Ricardo CarranzaFigura 10 - Casa C.Lunardelli, Guraujá – SP Foto: Ricardo Carranza

 

 

Figura 11 Casa C. Lunardelli, teto da sala de estar.  Foto: Ricardo CarranzaFigura 11 Casa C. Lunardelli, teto da sala de estar. Foto: Ricardo Carranza

 

Figura 12 - Casa C. Lunardelli, sala de estar, 2003 -  Foto: Ricardo CarranzaFigura 12 - Casa C. Lunardelli, sala de estar, 2003 - Foto: Ricardo Carranza

 

 

Figura 13 - Casa C. Lunardelli, Guarujá. Desenho em cad.  Fonte: Edite Galote.R. CarranzaFigura 13 - Casa C. Lunardelli, Guarujá. Desenho em cad. Fonte: Edite Galote.R. Carranza

 

 

 

Para a residência Orestes Frugiuelle, de 1970, em São Paulo, Longo elaborou dois projetos. O primeiro recusado e não construído merece destaque. A cobertura, uma lâmina de concreto aparente com acentuada declividade, possui planta em forma de leque, e uma seqüência de arcos diferenciados. A fachada principal, com dois pavimentos, possui uma descontinuidade formal que lembra uma série de casas justapostas. O resultado descontínuo da composição antecipa algumas conquistas pós-modernistas.

 

Figura 14 Casa Orestes Frugiuelle, maquete. Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 14 Casa Orestes Frugiuelle, maquete. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

Figura 15 Casa Orestes Frugiuelle, maquete.  Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 15 Casa Orestes Frugiuelle, maquete. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Um dos últimos projetos dessa primeira fase é sua casa-escritório, de 1970, construída em um terreno com acesso para duas ruas, no bairro do Itaim, São Paulo. Longo dividiu o terreno pelo eixo diagonal, e concebeu, a partir deste, dois volumes idênticos, porém espelhados. Localizou a residência numa das metades, com acesso pela Rua Amauri, e instalou seu escritório, com acesso pela Rua Peruíbe, na porção remanescente. A cobertura em concreto armado, com pergolados envidraçados sobre ambos os alinhamentos, fechava os volumes para a rua. Internamente, porém, havia total integração visual dos ambientes dispostos em mezaninos. As garagens, por exemplo, compartilhavam o espaço da sala de estar, na residência e, da recepção, no escritório.

Figura 16 Casa-escritório - Vista aérea.  Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 16 Casa-escritório - Vista aérea. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 17 Casa-escritório - desenho em Cad.  Fonte: Edite Galote R. CarranzaFigura 17 Casa-escritório - desenho em Cad. Fonte: Edite Galote R. Carranza

 

Figura 18 - Casa-escritório, vista da sala de estar.  Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 18 - Casa-escritório, vista da sala de estar. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 19 - Casa-escritório, vista da sala de estar com garagem.  Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 19 - Casa-escritório, vista da sala de estar com garagem. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

PROCESSO DE TRABALHO

Segundo Longo “O processo de criação antecede ao processo teórico; a criação é intuitiva e não teórica.” [5] O processo de projeto de Longo é vinculado fortemente ao desenho. Desde sua concepção em que estabelece um diálogo exaustivo com o croqui, até a forma peculiar de apresentação dos projetos executivos, onde mescla o rigor de plantas e cortes a uma forma bem humorada de povoar os ambientes com figuras humanas.

 Conforme análise de Carlos Lemos “A obra de Eduardo Longo é totalmente desvinculada da produção arquitetônica brasileira, e até mesmo de grupos que pudessem caracterizar uma arquitetura paulista. Liberto de qualquer imposição teórica – talvez, antes de tudo, um intuitivo - soube, com maestria criar espaços (..).[6]

A volumetria de suas primeiras obras tem um ponto de contato com os “Bichos” de Ligya Clark , no que tange ao aspecto plástico. Ao compararmos a maquete da casa Av. Marjory Prado, não construída, por exemplo, tem-se a nítida impressão de estarmos observando um daqueles interessantes objetos.

A Galeria Collectio, projetada em 1972, no Itaim-Bibi, São Paulo, é um divisor de águas em sua carreira. Trata-se da reciclagem de uma antiga fábrica e construção de anexo de quatro pavimentos. Para integrar os dois blocos, Longo demoliu uma parede periférica que sustentava o telhado, e o apoiou sobre uma viga metálica de quinze metros ironicamente ancorada sobre consoles barrocos de gesso. O anexo em estrutura metálica possui pisos de tela revestidos parcialmente com placas de borracha, o que permite visibilidade entre os andares, conforme o lay-out. das exposições. As vedações periféricas foram executadas em placas de fiberglass amarelo com miolo de poliuretano expandido. A cobertura translúcida foi resolvida mediante colchão d’água sobre o piso tela. O uso da cor é marcante neste projeto: paredes vermelhas, escadas e estruturas em tons de verde e telhado em degradé na cor laranja. Infelizmente, após o término da obra, o projeto foi descaracterizado pelo proprietário.

Figura 20  - Galeria Collectio, fachada Av.9 de Julho.  Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 20 - Galeria Collectio, fachada Av.9 de Julho. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 21  - Galeria Collectio - detalhe do console de gesso. Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 21 - Galeria Collectio - detalhe do console de gesso. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

Figura 22 - Galeria Collectio, entrada lateral. Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 22 - Galeria Collectio, entrada lateral. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

MUDANÇA DE RUMO

Depois de uma bem sucedida seqüência de projetos, Longo decide, em 1972, recusar encomendas, aceitando apenas reformas residenciais, pois “não queria ocupar terrenos vazios com novas construções”. É quando mergulha em um tumultuado repensar existencial e profissional.

A reforma de sua casa-escritório traduz o resultado desse processo que durou quase dois anos. Longo simplificou drasticamente seus hábitos de consumo, reduziu seus pertences e concentrou no mezanino seu espaço privado, em 42m2. Além disso, abriu o pavimento térreo para o público, criando uma passagem de pedestres entre as ruas Amauri e Peruíbe, como uma pequena praça. Buscou respostas também através da pintura, usando todas as paredes internas de seu habitat como suporte, antes de demoli-las.

 

Figura 23 - Casa-escritório - mezanino.  Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 23 - Casa-escritório - mezanino. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 24 - Casa-escritório, sala de estar.  Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 24 - Casa-escritório, sala de estar. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 25 Casa-escritório, 42m2.  Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 25 Casa-escritório, 42m2. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 26 Casa-escritório, passagem entre ruas. Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 26 Casa-escritório, passagem entre ruas. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Sobre seus estudos declara “me interessei por idéias internacionais, dos metabolistas japoneses, dos ingleses do Archigram, das malhas suspensas de Yona Friedman, das ousadias tecnocráticas do norte-americano Buckminster Fuller e de muitos outros, encantados com as conquistas espaciais e suas possibilidades na urbanização”[7].

O projeto de reforma da residência W. P. Leite, em 1973, é um exemplo desse período. Longo propôs a concentração das funções no pavimento superior da casa deixando o térreo livre sobre “pilotis” diminuindo, assim, os volumes fechados. Nos fundos, concentrou as dependências de empregada e o quarto do filho da proprietária, ambos simétricos e idênticos. Acreditava que, mesmo não solicitando, seus clientes viveriam  melhor em casas despojadas, menores e mais transparentes.

Seguindo o conceito das reformas, Longo começa a desenvolver o projeto de uma unidade habitacional. Como ele diz “Buscando estilo de vida simplificado, diminuição de supérfluos, consumo responsável, leveza espiritual e tecnológica”.  Cria uma cápsula habitacional esférica, modular e compacta, que seria fabricada em série com alta tecnologia. As “bolas” seriam “plugadas” em mega-estruturas de suporte, com vazios que permitissem a circulação do ar, a insolação e o isolamento acústico e também permitiriam a liberação do solo para áreas de lazer e convívio social.

O conceito da “casa bola” é não-convencional por natureza. É uma proposta radical de morar e, portanto, essencialmente controvertida. Neste sentido, devemos avaliar alguns aspectos: a forma é determinante e foge de quaisquer estereótipos ou padrões já assimilados, a concentração de espaço determina um certo despojamento incompatível com o acúmulo de objetos supérfluos, que é idiossincrasia freqüente em sociedades capitalistas. Em síntese, é uma proposta habitações a serem produzidas em larga escala. Longo costuma comparar o desenvolvimento da indústria da construção civil à automobilística, e observa o quanto a primeira está longe de alcançar o rigor e controle de qualidade da segunda. [8]

Figura 27  - Edifício Rua Cel. Jardim, croqui do apartamento-bola. Foto: Ricardo CarranzaFigura 27 - Edifício Rua Cel. Jardim, croqui do apartamento-bola. Foto: Ricardo Carranza

 

Figura 28 Casa Bola 1 – Maquete.  Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 28 Casa Bola 1 – Maquete. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

DUAS CASAS BOLAS

Em 1972, Longo decide construir uma maquete em escala 8:10 da Casa Bola a ser implantada na cobertura de sua casa-escritório. Assim, Inicia-se um processo que culminará na transformação da maquete em residência do arquiteto.

Para viabilizar a implantação e atender a exigências legais de recuos do terreno, o diâmetro original de dez metros foi reduzido para oito, o que é observável na compactação e austeridade franciscana nos ambientes das três suítes, sala de estar, lavabo social, cozinha, dormitório de empregada e lavanderia.

A estrutura é composta por tubos metálicos, distribuídos em meridianos e paralelos; a vedação externa foi executada em argamassa armada e as vedações internas foram executadas com blocos de cimento celular. O sistema construtivo da casca foi desenvolvido com o amigo Charles Holmquist, que tivera experiência com ferro-cimento na construção de barcos.

Foram cinco anos de pesquisa e aprendizado em um verdadeiro exercício de humildade. Sua dedicação extrema transcende a atuação convencional do arquiteto, pois construiu a maior parte dessa obra com as próprias mãos.

Figura 29 Casa Bola 1 - Rua Amauri.  Foto: Edite Galote R. CarranzaFigura 29 Casa Bola 1 - Rua Amauri. Foto: Edite Galote R. Carranza

 

Figura 30 Casa Bola 1 - Rua Peruibe.  Foto: Edite Galote R. CarrranzaFigura 30 Casa Bola 1 - Rua Peruibe. Foto: Edite Galote R. Carrranza

 

Figura 31  Casa Bola 1 - Sala de Estar. Foto: Edite Galote R. CarranzaFigura 31 Casa Bola 1 - Sala de Estar. Foto: Edite Galote R. Carranza

 

Figura 32 Casa Bola 1 - Lavabo.  Foto: Edite Galote R. CarranzaFigura 32 Casa Bola 1 - Lavabo. Foto: Edite Galote R. Carranza

 

Figura 33  Casa Bola 1 - Cozinha   Foto: Edite Galote R. CarranzaFigura 33 Casa Bola 1 - Cozinha Foto: Edite Galote R. Carranza

 

Figura 34 Casa Bola 1 - Dormit´roio.   Foto: Edite Galote R. CarranzaFigura 34 Casa Bola 1 - Dormit´roio. Foto: Edite Galote R. Carranza

 

Figura 35 Casa Bola 1 - desenho em cad.  Fonte: Edite Galote R. CarranzaFigura 35 Casa Bola 1 - desenho em cad. Fonte: Edite Galote R. Carranza

 

Figura 36  – Casa Bola 1 – desenho em cad.  Fonte: Edite Galote R. CarranzaFigura 36 – Casa Bola 1 – desenho em cad. Fonte: Edite Galote R. Carranza

 

Em 1981, Longo empreende a Casa Bola 2, no bairro do Morumbi, em São Paulo. Encomendada pelos pais, ela possui   programa e  organização das funções que a diferencia da anterior: cozinha, escritório e sala de jantar ao nível da rua; duas suítes no pavimento superior e uma grande sala de estar que ocupa todo o pavimento inferior. A circulação interna foi resolvida por meio de rampa cujo percurso permite visualizar os três níveis e a paisagem externa. Na porção frontal do lote, há um bloco anexo que abriga a garagem coberta por terraço e, no nível inferior, as áreas de serviço.

Longo aperfeiçoou a estrutura metálica, dispondo os tubos por eixos verticais e horizontais para maior flexibilidade na distribuição dos caixilhos. Além disso, implantou a Bola sobre uma única coluna elevada em terreno fortemente inclinado, fato este que contribuiu com uma maior expressão plástica. Desta vez, a execução ficou a cargo de uma empresa de engenharia, sob a supervisão do arquiteto.

 

Figura 37   Casa Bola 2 – Fachada lateral direita. Fonte. Arquivo Eduardo LongoFigura 37 Casa Bola 2 – Fachada lateral direita. Fonte. Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 38 Casa Bola 2 – Fachada posterior.   Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 38 Casa Bola 2 – Fachada posterior. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 39  Casa Bola 2 – Corredor dormitórios. Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 39 Casa Bola 2 – Corredor dormitórios. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 40 Casa Bola 2 – Sala de estar.  Fonte: Arquivo Edaurdo LongoFigura 40 Casa Bola 2 – Sala de estar. Fonte: Arquivo Edaurdo Longo

 

Figura 41 Casa Bola 2 - Rampa de acesso. Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 41 Casa Bola 2 - Rampa de acesso. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 42  Casa Bola 2 - Dormitório.  Fonte: Arquivo Edaurdo LongoFigura 42 Casa Bola 2 - Dormitório. Fonte: Arquivo Edaurdo Longo

 

 

 

 

Figura 43  Casa Bola 2 - desenho em cad.  Fonte: Edite Galote R. CaranzaFigura 43 Casa Bola 2 - desenho em cad. Fonte: Edite Galote R. Caranza

 

 

NOVAS EXPERIÊNCIAS

A residência George Longo de 1984, em São Paulo, foi construída em terreno com forte declividade, ao lado da Casa Bola 2.

A casa possui três pavimentos abaixo do nível da rua, está voltada para os fundos do terreno para o desfrute da vista panorâmica.  Ao nível da rua, estão a garagem o teto jardim e o volume da escada. No primeiro nível abaixo, estão a sala de estar, jantar, cozinha e dependências. Abaixo deste, os dormitórios com acesso à piscina no nível inferior.

Sua estrutura é de chapa metálica dobrada, que foi projetada para ser soldada na fábrica e apenas aparafusada na obra. Toda galvanizada recebeu posteriormente pintura de acabamento, que segue um curioso critério de cores: “marrom terra, verde mata, azul céu e amarelo sol”.

Figura 44  Casa G. Longo. Fachada posterior. Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 44 Casa G. Longo. Fachada posterior. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

Figura 45Casa G. Longo - maquete.   Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 45Casa G. Longo - maquete. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 46Casa G. Longo - desenho em cad. Fonte: Edite Galote R. CarranzaFigura 46Casa G. Longo - desenho em cad. Fonte: Edite Galote R. Carranza

 

Em 1990, participa com um grupo de arquitetos do controvertido empreendimento “Torre São Paulo”, idealizado pelo arquiteto Gaetano Pesce. O empreendimento residencial de alto padrão previa um edifício onde cada pavimento teria concepção arquitetônica independente. Mediante sorteio a distribuição dos andares foi a seguinte: 1o. Miguel Juliano, 2o. Ricardo Julião, 3o. Ruy Otake, 4o. Carlos Bratke, 5o. Paulo H. Casé, 6o. Eduardo de Almeida, 7o. Marcos Acayaba, 8o. Roberto Loeb, 9o. Paulo Mendes da Rocha, 10o. Vasco de Mello e Tito Lívio Frascino, 11o. Eduardo Longo, e paisagismo de Burle Marx.

A cobertura projetada por Longo desconcertou a crítica. Imaginou-se que ele projetaria uma nova Casa Bola, no entanto concebeu uma interessante casa de campo.

PROJETOS URBANOS

A partir de 1989, Longo se dedica a projetos de escala urbana. Desenvolve alguns projetos teóricos como: os museus Bolas sobre vias públicas de 1989, as passarelas de pedestres de 1992, e a mega estrutura sobre a Av. Vital Brazi de 1995. Além deles, o Projeto Espaço Criança de 1990 da Prefeitura de São Paulo, os concursos para Habitação Popular no Brás de 1989 e o de idéias para Av. Paulista de 1996 e por fim do projeto ILAM (Instituto Latino Americano).

Figura 47 - Museu Bola - Maquete. Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 47 - Museu Bola - Maquete. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 48 Museu Bola - croqui.  Fonte: Arquivo Edaurdo LongoFigura 48 Museu Bola - croqui. Fonte: Arquivo Edaurdo Longo

 

Convidados pela então prefeita de São Paulo, Luiza Erundida, a equipe do Projeto Espaço Criança era formada pelos arquitetos: Paulo Bastos, Paulo Montoro, Julio Neves, Longo, e a coordenadora Mayumi Watanabe da EMURB. A equipe deveria apresentar soluções para a ocupação do terreno da extinta Favela Nova República, arrasada por um deslizamento de terra. A proposta aprovada pela prefeita foi idealizada pelo arquiteto Paulo Bastos.

O projeto individual de Longo, previa a construção de um grande edifício sobre “pilotis” ligando as extremidades do terreno pela cota mais alta. No corpo do edifício “ponte” ficariam as salas para as atividades didáticas, e o teto seria uma grande praça jardim. O projeto paisagístico do vale contemplava horta e pomar comunitários, além de um lago com queda d´água.

 

Figura 49 Espaço Criança - croqui. Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 49 Espaço Criança - croqui. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 50  ILAM  - maquete.   Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 50 ILAM - maquete. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

O projeto ILAM  de 1992, tinha equipe formada pelos arquitetos: : Paulo Montoro, Ubertello Bulgari D'Élcio e Sylvio Sawaya.

De caráter social, seu programa previa a criação de unidades de desenvolvimento rural, contendo: habitações rurais, infraestrutura de comércio e serviços, educação e lazer, além de atividades de cultivo em lavouras coletivas. Os complexos contariam com o apoio da comunidade universitária,  e seriam implantados inicialmente em Pindamonhangaba, Rio Verde, Campina Grande e Sorocaba.

Sua proposta para uma mega-estrutura sobre a Av. Vital Brasil, em São Paulo, mostra sua preocupação com o uso e ocupação do solo e apresenta uma alternativa ao processo de verticalização, visando a liberação do solo para áreas de lazer e convívio social.

Abrangendo alguns quarteirões, o projeto segue o eixo da avenida.  Acima do leito carroçável, seria construída uma passarela suspensa para pedestres e ciclistas. Acima desta, distante cerca de doze metros, teria início o volume principal do edifício, com alternância entre quatro andares ocupados por unidades habitacionais e um andar de pilotis destinado a estacionamento. Nas laterais da avenida, seriam implantados volumes de quatro pavimentos, com coberturas jardim, destinados ao comércio e serviços.

Propostas como esta, ou como a de Lê Corbusier para o Rio de Janeiro, sempre defendida por Lúcio Costa, para citarmos apenas uma, entram em choque com a política fundiária em vigor. São propostas audaciosas e controvertidas, mas que deveriam ser analisadas com mais cuidado em busca de soluções diferenciadas para o processo de verticalização de nossas cidades.

Figura 51 Vila Sobreposta - maquete.  Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 51 Vila Sobreposta - maquete. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

Figura 52 Vila Sobreposta - Maquete eletrônica. Fonte: Arquivo Eduardo LongoFigura 52 Vila Sobreposta - Maquete eletrônica. Fonte: Arquivo Eduardo Longo

 

O conceito do projeto da Vital Brazil foi retomado no recente concurso público para o Largo da Batata, de 2002. Para esse projeto, Longo assumiu a demolição e verticalização progressiva de alguns quarteirões, interligados por passarelas suspensas de estrutura metálica e tela, de forma a criar um segundo “solo” para pedestres, acima dos carros, conectando sobrelojas. Mas o projeto foi desclassificado, pois não seguia uma das regras do concurso que excluía qualquer possibilidade de mudança no Código de Obras.

CONCLUSÕES

Longo é contemporâneo de uma geração de arquitetos que a partir da segunda metade do século XX, iniciaram um processo de questionamentos e busca de novos caminhos de expressão arquitetônica, baseados no rompimento com os paradigmas do Movimento Moderno.

Fora do contexto histórico, a arquitetura de Longo tem um sabor exótico, ou seja, uma certa disparidade com a produção arquitetônica local da época que certamente predominava o “Brutalismo da Escola Paulista”, seguido de diluidores e estereótipos.

A compreensão de sua obra passa, obrigatoriamente, pela análise da trajetória de um homem sensível às mudanças sociais e culturais dos anos sessenta e setenta. Suas experiências na arquitetura,poderiam ser classificadas como análogas a outras personalidades de áreas distintas, no mesmo período, tais como: na música tropicalista de Caetano, Gil e Torquato Neto; no cinema novo de Glauber Rocha, no teatro experimental de José Celso Martinez Correa, na arte de Hélio Oiticica. Essa aproximação entre Longo e a Vanguarda artística é resultado de sua ousadia em estender o comportamento para o campo do processo de projeto de arquitetura. Longo desafinou o coro dos contentes, e teve que arcar com as conseqüências.

Eduardo Longo desenvolveu cento e vinte projetos, construídos, não construídos e teóricos. Mas foi a Casa Bola, que hoje pode ser considerada um dos ícones da arquitetura contemporânea, que lhe conferiu maior visibilidade, inclusive internacionalmente. Mas, este documento procura resgatar, principalmente, o conjunto de sua obra, rica em experiências conceituais, comportamentais e técnico-construtivas, do arquiteto que soube combinar, de forma inusitada, o comportamento rebelde dos anos sessenta e setenta com o rigor monástico das corporações de ofício medievais.

 

[1] BARDI, Pietro Uma casa diferente Revista Mirante das Artes, n2, março abril 1967 p. 24

[2] BRUAND, Yves Arquitetura contemporânea no Brasil, São Paulo, Perspectiva, 1981 p. 293

[3] Segundo depoimentos do arquiteto à autora 2001.

[4] BRUAND, Yves Arquitetura contemporânea no Brasil, São Paulo, Perspectiva, 1981 p. 270.

[5] Declaração de Longo em entrevista ao Estado de São Paulo, Jornal da Tarde em 11 de fevereiro de 1967, p.5

[6] XAVIER, Alberto, LEMOS, Carlos A.C. e CORONA, Eduardo  “Arquitetura Moderna Paulistana “  São Paulo, Pini, 1983, p. 131.

[7] Em entrevista à autora

[8] Declaração de Longo, em entrevista à autora em 17/11/00.

 

[i]  Texto publicado originalmente na Revista AU, n.112.

    Edite Galote Carranza
    é mestre pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie em 2004; doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 2013 com a tese “Arquitetura Alternativa: 1956-1979”; diretora do escritório de arquitetura e editora G&C Arquitectônica e da revista eletrônica 5% arquitetura + arte ISSN 1808-1142. Publicações em revistas especializadas, livros Escalas de Representação em Arquitetura, Detalhes Construtivos de Arquitetura e O quartinho invisível: escovando a história da arquitetura paulista a contrapelo. Professora da graduação e pós-graduação da Universidade São Judas Tadeu.
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