A casa arquétipo da UNICAMP

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EDITE GALOTE CARRANZA

RICARDO CARRANZA

"Em relação ao desenho, buscou-se partir de uma imagem quase arquetípica da ideia de “casa”: uma porta, uma janela, um telhado (…) que pudessem ser complementados por uma árvore, uma cerca…”(VILLÀ)

Para a materialização do conceito em epígrafe, Joan Villá, arquiteto adepto da autenticidade em arquitetura, adotou o princípio da técnica construtiva e uma forma coerentes com o sistema de produção serial.

O desafio era obter a máxima economia de meios com o máximo de expressão. O resultado ainda é exceção no panorama da arquitetura brasileira, mesmo decorridos trinta anos da experiência na Unicamp. 

 

Vita da sala de estar. Foto: Nelson KonVita da sala de estar. Foto: Nelson Kon

 

Villá equacionou o sistema com painéis de cerâmica coordenados em módulo. Com base nas dimensões do bloco: 9x19x19cm, estabeleceu malha em dois eixos: 45cm na horizontal e variável na altura. Os painéis são montados em forma de madeira, distribuídos com espaçadores e agregados com argamassa nas juntas e nervura de concreto armado no eixo vertical.

Villà investiria na tese de que só se comprovaria o grau de assimilação e confiança no sistema, questões fundamentais para o sucesso da proposta, se empregasse mão de obra pouco qualificada. No decorrer do trabalho, comprovou-se a facilidade de aceitação e assimilação demonstradas pela produtividade e superação do trabalho parcelado. Os serventes, em regime de trabalho acumulativo, aprendiam com rapidez, conquistando sua capacitação durante a construção.

 

Plantas em malha de coordenação modular: Pavimento Térreo, Superior e Laje de Cobertura. Fonte: Arquivo do arquitetoPlantas em malha de coordenação modular: Pavimento Térreo, Superior e Laje de Cobertura. Fonte: Arquivo do arquiteto

 

O sistema contempla painéis de parede, divisórias, laje de forro, piso e escada, nas tipologias térrea e sobrado. As instalações elétricas e hidráulicas são embutidas nas furações dos blocos que, estrategicamente aprumados na vertical, permitem a introdução de condutores com até 1”.

 

Montagem do painel escadas – blocos cerâmicos escalonados sobre forma de madeira e concretagem. A nervura interna da escada é armada com um ferro CA50 ø ¼” . Fonte: Arquivo do arquitetoMontagem do painel escadas – blocos cerâmicos escalonados sobre forma de madeira e concretagem. A nervura interna da escada é armada com um ferro CA50 ø ¼” . Fonte: Arquivo do arquiteto

 

O protótipo sobrado foi pensado para um lote com testada de 5m, tendo em vista a possível geração de blocos contínuos que esultariam da extrusão da seção transversal, com até 30m em fileira.

Os ensaios de carga de laje de piso atingiram a marca de 800kgf/m² contra os 450kgf/m² das lajes pré-fabricadas tipo B12 do sistema aberto da construção civil. O melhor desempenho da laje ensaiada foi atribuído à solidariedade do bloco cerâmico e concreto armado.

 

Vista do conjunto recém inaugurado. Foto: Nelson KonVista do conjunto recém inaugurado. Foto: Nelson Kon

 

A forma do painel escada compõe-se de berços escalonados com suporte de madeira tipo T sobre os quais os blocos são distribuídos, argamassados e concretados. Entretanto, a escada só estará concluída com a concretagem de capa de 25 mm de espessura depois de montagem na obra.

A cobertura foi resolvida com laje inclinada de painéis revestidos de argamassa de areia coada, com ou sem impermeabilização. Lajes de cobertura com inclinações superiores a 20% tem se revelado, na prática, com perfeita estanqueidade, o que dispensa o uso de mantas.

 

Perspectiva do conjunto, desenho do arquiteto. Fonte: Arquivo do arquitetoPerspectiva do conjunto, desenho do arquiteto. Fonte: Arquivo do arquiteto

 

A solução plástica de nervuras delgadas de concreto armado, habilmente dispostas em diferentes inclinações, formando uma dinâmica de linhas de força com a retícula da cerâmica vermelha, impressiona como resposta inusual de uma arquitetura no limite da economia de meios que atinge o monumental, isto é, o trabalho produtivo de muitas mãos.

 

Detalhe construtivo do painel sistema CPC – Construção com Painéis Cerâmicos – forma de madeira, cerâmica vermelha tipo leve aberta sobre berço de areia, nervura de concreto com ferro CA50 ø ¼”, frisador para o rejunte, desempenadeira aplicada à nervura e escova de limpeza. Desenho:  Edite Galote CarranzaDetalhe construtivo do painel sistema CPC – Construção com Painéis Cerâmicos – forma de madeira, cerâmica vermelha tipo leve aberta sobre berço de areia, nervura de concreto com ferro CA50 ø ¼”, frisador para o rejunte, desempenadeira aplicada à nervura e escova de limpeza. Desenho: Edite Galote Carranza

 

 AUTORES: 

    Edite Galote Carranza
    é mestre pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie em 2004; doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 2013 com a tese “Arquitetura Alternativa: 1956-1979”; foi diretora do escritório de arquitetura e editora G&C Arquitectônica Ltda, editora-chefe da revista eletrônica 5% arquitetura + arte ISSN 1808-1142. Publicações em revistas especializadas, livros Escalas de Representação em Arquitetura, Detalhes Construtivos de Arquitetura e O quartinho invisível: escovando a história da arquitetura paulista a contrapelo. foi Professora da graduação e pós-graduação em arquitetura e urbanismo.

     

      Ricardo Carranza
      Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2000, foi diretor do escritório de arquitetura e editora G&C Arquitectônica Ltda, editor da revista 5% Arquitetura + Arte e escritor. Publicações: Antologias de Concursos Nacionais – SCORTECCI, SESC DF; revista de literatura – CULT; sites de Poesia e Literatura – Zunái, Stéphanos, Germina, Cult - Ofi-cina Literária, Mallarmargens, Cronópios, O arquivo de Renato Suttana, Triplov, Gueto, Ruído Manifesto, Pensador, Pixé, Acrobata. LIVROS: Poesia – publicados: Sexteto, Edição do Autor, SP, 2010; A Flor Empírica, Edição do autor, SP, 2011; Dramas, Editora G&C, SP, 2012, Centelha de Inverno, Editora G&C, SP, 2019, Sóis, Editora G&C, SP, 2021. Inéditos – Pastiche, 2017/2018; poesia... 2019. Contos – inéditos: A comédia dos erros, 2011/2018 – pré-selecionado no Prêmio Sesc de Literatura 2018; Anacronismos, 2015/2018; 7 Peças Cáusticas, 2018. Romance inédito: Craquelê, 2018/2019. Cadernos de Insônia (58): desde 2009. ARTIGOS publicados na revista 5% Arquitetura + Arte desde 2005; Pintor, site:carranzapoetrypaintings.art.br
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      FICHA TÉCNICA: TIPOLOGIA SOBRADO  

      Canteiro Experimental do Laboratório de Habitação da Unicamp 1986-1992

      Barão Geraldo – Campinas – SP

      Lote: 5X25m = 125m² (meio lote)

      Área Construída: 60m²

      Programa: Pavto. Térreo – sala, cozinha, banheiro e lavanderia. Pavto. Superior –

      dois dormitórios.

      Período de execução: 25 abril a 06 de julho de 1987.

      Equipe: 5 homens.

      Tempo Total de construção: 1300h/homem.

      Tecnologia: Concepção modular no emprego de componentes pré-fabricados com cerâmica vermelha.

      Colaboradores: Adauto Moraes

      Cálculo Estrutural: Yopanan Rebello

      Fotografia: Nelson Kon

      BIBLIOGRAFIA

      CAMARGO, Mônica. Arte como construção. Revista AU, v.146, mai-2006, p.

      VILLÀ, Joan. A construção com componentes pré-fabricados cerâmicos: sistema construtivo desenvolvido em São Paulo entre 1984 e 1994. São Paulo: FAUMACK, 2002.

      __________. Construções/Joan Villà. São Paulo: Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, 2005.

      MONTANER, Josep Maria; MUXI, Zaida. Residência estudantil da Unicamp: Joan Villà, construções para a sociedade, Campinas, 1992. Vitruvius 154.2, ano13, out.2013.

      AGRADECIMENTO:

      Casal Villá e Nelson Kon

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